A indústria nacional voltou a dar sinais preocupantes em maio, com a terceira queda consecutiva no faturamento, acentuando um cenário de desaceleração que já se desenha como tendência em 2025. Os dados, revelados pelos Indicadores Industriais da Confederação Nacional da Indústria (CNI), mostram uma retração de 1,2% entre abril e maio, e um acumulado de -1% no trimestre encerrado em maio, em comparação com os três meses anteriores.
O ritmo de crescimento da indústria tem perdido força, refletindo um ambiente de menor demanda e instabilidade no consumo. Para especialistas do setor, como o gerente de Análise Econômica da CNI, Marcelo Azevedo, os números confirmam a perda de dinamismo da atividade industrial, com efeitos que se estendem para além do faturamento.
Segundo Azevedo, todos os principais indicadores industriais — com exceção do emprego — apresentaram desempenho negativo no período analisado. Mesmo o emprego, que havia recuado em abril pela primeira vez em 18 meses, avançou apenas 0,1% em maio, um crescimento considerado tímido diante das perdas. Na análise trimestral, o avanço é de 0,4%, o que sinaliza estabilidade, mas sem força para reverter a tendência geral de desaquecimento.
Outro dado relevante é o número de horas trabalhadas na produção, que cresceu 0,8% em maio, após dois meses seguidos de recuo. Apesar disso, o índice ainda acumula queda de 0,4% no trimestre, o que confirma a lentidão no ritmo de retomada. O uso da capacidade instalada, um termômetro da atividade produtiva, teve ligeira alta de 0,3 ponto percentual em maio, alcançando 78,5%. No entanto, essa melhora pontual não foi suficiente para reverter a leve retração observada no acumulado trimestral.
Mais preocupantes são os indicadores relacionados à remuneração. A massa salarial dos trabalhadores da indústria caiu 3,9% em maio, apagando boa parte da alta registrada anteriormente. O rendimento médio também sofreu forte impacto, com queda de 3,8% entre abril e maio, e recuo de 0,8% no trimestre. Esses dados indicam não apenas perda de poder de compra dos trabalhadores, mas também fragilidade na sustentação da demanda interna.
A análise da CNI aponta que o setor industrial está preso a um ciclo de resultados instáveis: ora negativos, ora positivos, mas sempre muito fracos. Essa oscilação reflete a dificuldade em consolidar uma recuperação robusta, sobretudo diante de um ambiente macroeconômico desafiador e da redução no ritmo do consumo, tanto por parte das famílias quanto das empresas.
Com expectativas mais modestas para o desempenho da indústria ao longo do ano, os sinais de enfraquecimento tornam-se um alerta para empresários, economistas e formuladores de políticas públicas. A continuidade desse cenário pode comprometer investimentos, gerar efeitos colaterais no mercado de trabalho e afetar diretamente a competitividade da indústria brasileira no médio prazo.
Ainda que 2025 prometa crescimento, os dados de maio servem como aviso: o setor industrial precisa de estímulo, inovação e planejamento estratégico para retomar o fôlego e responder aos desafios que se desenham no horizonte.